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O presente trabalho versa sobre a análise da relação entre a dinâmica de um eixo de transporte ferroviário de massa e a sua área de entorno, no sentido de estabelecer as causas e conseqüências sócio-espaciais de um progressivo contexto de degradação dessa relação. Esse eixo ferroviário é a Linha Ferroviária Sul da Região Metropolitana do Recife, antiga Estrada de Ferro São Francisco que passou por períodos distintos na sua trajetória enquanto transporte ferroviário urbano: um primeiro momento de apogeu do final do século XIX e início do século XX enquanto transporte a serviço da produção de cana-de-açúcar e do deslocamento da aristocracia recifense ao município do Cabo; e um segundo momento de degradação do sistema e da infraestrutura a partir da segunda metade do século XX. As causas principais da degradação desse sistema e de sua relação com a área de entorno denotam um ambiente de derrocada da ferrovia frente à imperativa opção pelo modelo de desenvolvimento urbano calcado no rodoviarismo, tendo no automóvel o objeto de consumo da classe média brasileira. Além disso, a falta de investimentos do Estado, o caráter superficial do planejamento urbano e a omissão das legislações urbanísticas sobre o papel estruturador do transporte ferroviário contribuíram sobremaneira para esta paulatina degradação. Nem o processo de metropolização de Recife e a criação da sua Região Metropolitana foram capazes de reverter esse quadro de degradação, face à pauta de planos que surgiu a partir da criação desta nova instância territorial. Hoje temos um ambiente favorável à mudança, com uma legislação que menciona a ação deste transporte e um sistema de transporte que se baseia na intermodalidade através do Sistema Estrutural Integrado SEI. A implantação do metrô na linha sul traz à tona novas perspectivas para a relação transporte x área de entorno. Para isto, foi escolhida a área de entorno das futuras estações Shopping, Tancredo Neves e Boa Viagem devido à proximidade com os grandes equipamentos urbanos existentes (Shopping Center Recife e Aeroporto Internacional dos Guararapes) e o potencial de integração desses equipamentos com o metrô. Além disso, ao contrário da linha de metrô centro-oeste, a área estudada possui o maior potencial de integração local em relação à configuração espacial da cidade, apontando o conjunto da Av. Mascarenhas de Moraes e da Linha Sul do Metrô como eixos urbanos de integração à estrutura da cidade. Contudo, em meio às expectativas positivas, esta relação ferrovia - espaço gera alguns efeitos negativos: desterritorialização de grupos sociais de baixa renda e rigidez espacial face aos espaços localizados nos interstícios das estações, evidenciando os conflitos e contradições desta modernização na dialética do espaço urbano.