dc.description
O desenvolvimento político e econômico do colonialismo europeu a partir de 1500 levou a um progresso técnico sem precedentes, principalmente na Inglaterra, onde foi desenvolvida a primeira ferrovia usando locomotivas a vapor. Além de alterar as dinâmicas sociais, a ferrovia transformou-se em um grande negócio implantado ao redor do mundo, mudando radicalmente as formas de viver e produzir. Ao mesmo tempo em que a Europa se modernizava, a América Latina se colonizava, desenvolvendo-se segundo um modelo de dependência. No Brasil, a implantação das ferrovias ajudou a produzir um impacto civilizatório sem precedentes, constituído não apenas pelos produtos gerados, mas também pelas narrativas. A referência à construção da ferrovia como uma epopeia e aos trabalhadores ferroviários como heróis alimenta a narrativa apologética, muito presente em toda a literatura sobre o tema. A tese buscou investigar essa narrativa, em contraposição às chamadas narrativas críticas, que tentam desvendar os caminhos pelos quais transitou nossa formação histórica e tecnológica e as formas de dependência que a nação assumiu em relação aos países centrais. A evolução da tecnologia e dos sistemas produtivos forçou mudanças profundas na rede ferroviária brasileira, e muito do protagonismo vivido durante o século XIX dissolveu-se com o aparecimento dos motores à explosão e a construção de rodovias. Mas a ferrovia tinha já lançado raízes profundas em nossa memória coletiva e inspirou muitas obras que falam do trem do passado com saudade e reverência, as quais chamei de obras nostálgicas. Dessa forma, a distinção das fontes de consulta em três categorias – apologéticas, críticas e nostálgicas – nos auxiliou a compreender a natureza complexa desses processos. Embora a relação dominante estabelecida entre os países centrais, ou metrópoles, e os países periféricos, ou colônias, seja a de dependência, verificamos momentos em que essa relação sofreu movimentos substantivos de mudança, com tentativas de estabelecimento das bases de uma indústria ferroviária brasileira. A pesquisa também mostrou como os ventos do neoliberalismo sufocaram tais tentativas, induzindo à privatização das estradas de ferro, ao desaparecimento dos trens de passageiros de longo percurso e à concentração da ferrovia para transporte dos produtos da mineração e do agronegócio, acompanhando o movimento geral de desindustrialização no país. Na conclusão foram apontados alguns caminhos possíveis de desenvolvimento das ferrovias brasileiras e o papel importante que ainda poderão desempenhar.