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A questão ferroviária brasileira é um tema consideravelmente debatido, principalmente na perspectiva dos estudos das redes de comunicação e na historiografia de modo geral, que remonta ao fim dos Oitocentos como um período de grandes transformações político-econômico espaciais. Investigar as particularidades desses processos na escala provincial permite apreender as condições locais neles impressas. Assim, a presente pesquisa objetiva compreender a instalação da Estrada de Ferro de Baturité, entre 1872 e 1926, de Fortaleza à cidade do Crato, como o elemento central de um processo de modernização territorial. Metodologicamente, iniciou-se pelo trabalho bibliográfico, orientado a partir de grandes temáticas: a “questão ferroviária”, “formação socioespacial” e “modernidade e modernização territorial”. A investigação fundamentou-se, sobretudo, em fontes documentais, especialmente as oficiais (Relatório de presidentes da província; Mensagens, Avisos, Decretos e Leis); também utilizou se notícias e reportagens jornalísticas; além de fontes secundárias, como os dados censitários. Inicialmente, fez-se necessário apreender o contexto global e nacional circunscrito ao Segundo Reinado, no qual os projetos ferroviários representavam uma parcela do processo de expansão capitalista, capitaneado pela Inglaterra, que conferia às economias dependentes a necessidade de ajustes territoriais. Ao analisar esse processo no Ceará, partiu-se dos interesses da elite política em garantir a instalação de ferrovia – inicialmente consolidando a transformação da base produtiva agroexportadora da província e objetivando o avanço sobre o sertão e o que nele era produzido. Nesse contexto, além dos aspectos que garantiram o início da construção, investigou se como se assegurou, ao longo de mais de cinco décadas, que o projeto se instalasse por completo até atingir o Crato, a cidade Boca de Sertão, localizada no extremo sul do Ceará. Para isso, demonstrou-se a essencialidade do emprego da mão-de-obra dos retirantes das secas para o avanço das obras. O resultado do processo de modernização territorial cearense se deu em duas frentes: socialmente, transformou-se as relações de trabalho com a incorporação dos sertanejos nas obras ferroviárias, implicando um forçado processo de proletarização e, complementarmente, se territorializou anseios da burguesia comercial com a implementação dos trilhos, alterando as condições de escoamento e conformando uma rede urbana a partir da expansão da fronteira de acumulação sertão adentro.