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O V Congresso Internacional de História e Patrimônio Ferroviário e a IV Jornada de Jovens Pesquisadores em História e Patrimônio Ferroviário (São Paulo, Brasil) são eventos que pretendem estimular o conhecimento nas áreas de história, urbanismo e patrimônio ferroviário, num esforço conjunto do Grupo de Pesquisa Memória Ferroviária, da Universidade Estadual Paulista – UNESP e do Grupo de Pesquisa Patrimônio, Políticas de Preservação e Gestão Territorial do POSURB-ARQ da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, no estado de São Paulo.

A história e o patrimônio ferroviário já foram temas de outros eventos internacionais apoiados pelo TICCIH e outras representações nacionais latinoamericanas, dentre os quais os VI Seminário de Patrimônio Ferroviário (2012) e o Congresso de História Ferroviária organizado pelo TICCIH/Argentina (Mendoza, 2017). O congresso da AIHC já tinha ocorrido na América Latina, com apoio do TICCIH/Chile (Santiago do Chile, 2015). Dessa forma, o TICCIH e a AIHC apoiaram a iniciativa de promover o V Congresso Internacional de História e Patrimônio Ferroviário em Campinas, em 2020, com o intuito de discutir questões sobre preservação relevantes para os países da América Latina: gestão territorial, educação e comunicação
patrimonial.

O subtítulo “Os legados para nosso futuro” sinaliza a importância que se pretende dar à reflexão sobre as condições atuais do patrimônio ferroviário e o papel que poderá ter no futuro, como antigo e ainda potencial elemento de estruturação urbana. O evento abrange três temas centrais, que receberam excelentes contribuições de pesquisadores e estudantes, que permitem observar os avanços na pesquisa e na gestão da preservação e uso dos bens ferroviários para o desenvolvimento social.

Cada uma das temáticas apresenta um conjunto de questões atuais e pertinentes ao contexto brasileiro e latino-americano. Em “educação e ferrovias”, os debates estabelecem estreita relação entre a preservação patrimonial e a educação, vista como uma oportunidade de estímulo ao aprendizado por meio dos bens industriais ferroviários, num contexto atual de grandes desigualdades socioeconômicas. Se a permanência dos trilhos e estações permite a imersão no conhecimento sobre a história da cidade, a educação pode estimular o debate sobre a importância da preservação para a formação cidadã.

A instituição museológica tem um reconhecido papel no campo da preservação patrimonial. Contudo, é preciso destacar e discutir como ela se instala e se apropria dos espaços construídos. Em “museus e ferrovias”, a segunda temática, procura-se problematizar a adequação do espaço arquitetônico das estações para a instalação de museus (locais ou regionais), num contexto de abandono (desde os anos 1970) seguido por uma reutilização das estruturas ferroviárias para uso cultural. Se, por um lado, há a recorrência do “uso cultural” para antigos edifícios, como forma de enobrecimento dos espaços patrimoniais, por outro, constata-se uma forma de “loteamento” dos espaços ferroviários por usos institucionais ou temporários, num processo típico de subutilização, que resulta no esvaziamento do significado desses bens.

Com a temática “gestão da herança ferroviária no território” propõem-se enfrentar o debate da preservação patrimonial como questão do urbanismo. Isso significa dar ênfase às questões do planejamento e gestão territorial, superando a visão da preservação da arquitetura isolada, com função meramente estética ou simbólica, sem considerar as dinâmicas urbanas contemporâneas, que resultam em processos de valorização dos contextos, e sem a necessária compreensão dos processos de disputa dos diferentes grupos e agentes atuantes nos territórios.

Em resumo, propõe-se um espaço de discussão nacional e continental, com participação de acadêmicos, profissionais, técnicos, representantes de entidades ou empresas, envolvidos diretamente com a história, a preservação e gestão do patrimônio ferroviário nas temáticas propostas.

Como forma de estender as discussões propostas nesse evento, ocorre, concomitantemente, a IV Jornada de Jovens Pesquisadores, onde são apresentados os resultados científicos alcançados por estudantes de graduação e pós-graduação sobre história ferroviária, estudos urbanísticos e de preservação do patrimônio industrial ferroviário. É um evento anual e faz parte das atividades de difusão científica dos resultados da equipe de pesquisadores e discentes do Projeto Memória Ferroviária que, nessa versão, foi ampliado à participação de estudantes de outras instituições. O projeto de pesquisa vem sendo desenvolvido há dez anos, com financiamentos da FAPESP e do CNPq. Iniciado em 2017 como seminário interno de formação dos membros da equipe, desde 2019 abriu-se para o público acadêmico mais amplo, com o intuito de aprofundar o debate e estimular perspectivas inovadoras e interdisciplinares em pesquisas nos âmbitos nacional e latino-americano, assim como a formação de futuros pesquisadores.

Desta forma, os temas correlatos definidos para apresentação oral e publicação nos anais desse evento, com abordagens que vão do uso dos remanescentes ferroviários como lugares de aprendizado da história do trabalho e da formação das cidades à discussão sobre a reativação do transporte ferroviário e os critérios e instrumentos para sua gestão, são: “novos instrumentos metodológicos e/ou enfoques teóricos para identificação de vestígios materiais e da memória ferroviária”, “Novas fontes documentais ou materiais para estudo do patrimônio urbano e da memória do trabalho ferroviário”, “estudos multidisciplinares sobre patrimônio ferroviário” e “estudos locais e análises transversais sobre a história, a arquitetura e os contextos urbanos do patrimônio ferroviário”.

Com os eventos em paralelo, buscou-se propiciar o rebatimento mútuo de hipóteses e métodos presentes nas pesquisas realizadas em âmbito internacional e nos trabalhos em andamento de jovens pesquisadores do tema, num movimento que se pretende permanente de interação e aprendizado recíproco.


Prof. Dr. Eduardo Romero de Oliveira
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Profa. Dra. Maria Cristina da Silva Schicchi
Pontifícia Universidade Católica de Campinas