Durante o período de 2009 a 2011 desenvolvemos um projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP para efetuar levantamento quantitativo da documentação textual de ferrovias do estado de São Paulo, depositados em acervos públicos, e que foram identificados por assunto. Tratou-se de um inventário quantitativo que subsidiou a criação de uma base de dados documentais com mecanismo de busca, que está disponível publicamente no site eletrônico do Projeto Memória Ferroviária (PMF), com quase 19.391 mil itens de entrada no banco – cada item pode significar maço, pacote, caixa ou volume encadernado. Os resultados foram extremamente relevantes, pois deu visibilidade e rapidez para consulta em acervos de empresas férreas que não estão organizados, ou revisados seu conteúdo catalogado, além de busca cruzada sobre assuntos. O banco está disponível no site do PMF e em constante atualização e correção, como mais uma das ferramentas de pesquisas disponível ao pesquisador sobre o tema da história do transporte ou do patrimônio ferroviário.
Percebeu-se também a dimensão desta documentação produzida pelas ferrovias: 14 mil fotografias, 4 mil mapas e desenhos técnicos, 900 caixas de documentação e periódicos e mais de 13 mil livros – nos acervos do Museu da Companhia Paulista, em Jundiaí, no Arquivo do Estado, em São Paulo, e no Centro de Memória da RFFSA, em Bauru. Conforme relatório do Arquivo do Estado, foram identificadas mais 154 mil imagens e dezenas de milhares de mapas e plantas em outros acervos dispersos pelo Estado, muitos de acesso restrito (da massa falida da RFFSA). Chega-se, portanto, a uma massa documental muito além do esperado inicialmente por nós, mas também uma percepção mais ampla sobre o funcionamento administrativo das empresas, dos recursos tecnológicos mobilizados, assim como da mão-de-obra.
Em parceria com o Arquivo Publico do Estado de São Paulo foram realizadas copias digitais de relatórios das empresas ferroviárias paulistas que são foco deste projeto: Relatório da Companhia Paulista de Estradas de Ferro e Vias Fluviais (1869-1971), Relatório da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro (1873-1930); Companhia Ituana de Estradas de Ferro (1871-1890); Companhia Sorocabana (1873-1887); Companhia União Sorocabana e Ituana (1892-1903); Sorocaba Railway Company (1908-1918); Estrada de Ferro Sorocabana (1919-1930). Também são disponibilizados material cartográfico relacionados as mesmas empresas ou ao transporte no Brasil, produzido por elas ou outros órgãos públicos. Posto que estes são documentos de empresas de gestão de serviços públicos, sua divulgação está garantida pela legislação nacional de arquivos (Lei 8.159, de 8 janeiro 1991, Art. 7º, § 1º). Este material está agora disponível nosso site, na aba Documentos Digitais.
A partir destes resultados, por um lado, ficou patente a importância de estudos monográficos sobre as empresas ferroviárias como atividade industrial, e, dentro dela, a relevância do conhecimento tecnológico (engenharia ferroviária) e sua interrelação com aspectos arquitectónicos (espaço de produção), econômicos (circulação de produtos e capital), sociais (relações de trabalhos) ou cultural (como a recreação operária).
Por outro lado, colocou-nos novamente frente a questão do patrimônio ferroviário, numa perspectiva mais ampla: as valorações institucionais e sociais que lhe são atribuídas; a sua qualificação como um tipo particular de patrimônio (o industrial) e suas formas de gestão; e como este tipo de patrimônio exige atenção desde o patrimônio edificado até o patrimônio documental, passando pelos bens móveis e a memória intangível do trabalho – por isso a pretensão do projeto é realizar um “inventário integral”; isto é, que esteja atento aos diferentes tipos de patrimônios materiais e intangíveis conhecidos relacionados a empresa ferroviária.
Em função disso, o Projeto Memória Ferroviária ampliar seu espectro de estudos em vista de pesquisar as tecnologias de transporte ferroviário; pelo que e inventário e mapeamento de exemplares históricos dos sistemas ferroviários e do patrimônio ferroviário no interior do estado São Paulo. Os resultados obtidos até o momento são disponibilizados ao público no site do PMF, tanto para subsidiar outras pesquisas quanto ações de proteção deste tipo de patrimônio industrial.