Em comemoração ao Dia do Pedagogo, dia 20 de maio de 2020, convidamos o graduando em Pedagogia da Universidade de São Paulo (USP) e membro da equipe Memória Ferroviária, Evandro Nogueira Santana Junior a nos informar sobre a atuação do Pedagogo e a ação deste profissional na área patrimonial.
Como um começo apontou-se a atuação do pedagogo e a diferenciação entre um educador, professor e pedagogo:
“O professor talvez seja o mais simples. Desde a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996, há uma definição do trabalho do professor, como alguém dedicado a docência, diretamente no ensino, e o reconhecimento do seu trabalho na escola e na sala de aula. Por outro lado, o termo educador será aproveitado por uma abordagem que ganha força nas contradições do papel do professor, questionado principalmente pelo movimento chamado Escola Nova. Para esse movimento, o professor é alguém autoritário, que praticava a educação de cima para baixo sem a participação dos alunos no processo educativo e, por isso, não educava. Essa discussão foi suprimida e perdeu forças frente a agenda educacional brasileira, assim, educador se torna sinônimo de professor, com o agravante de não ter reconhecido seus direitos como profissional do ensino”.
Também mencionou que “o Pedagogo se desassocia dessa discussão na medida em que ele é formado para trabalhar em diversos eixos da educação, como na elaboração de currículos, avaliações e materiais didáticos, além dos diversos níveis de trabalho na escola. Também é comum o trabalho em museus e centros culturais, como monitores ou gestores. Resumindo, todo professor é pedagogo, pois tem (ou deveria ter) a formação na área da Pedagogia, mas nem todo pedagogo é professor, porque pode não trabalhar diretamente com o ensino”, diz Evandro.
Ele também aponta que “no caso da atuação do profissional em referência ao patrimônio cultural, o trabalho se dá basicamente nos museus, tanto como monitor ou gestor da parte educativa do museu, e também como acompanhante das visitas aos museus com os alunos. Há a possibilidade de atuar também com a criação de material didático, como por exemplo as maquetes desenvolvidas no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP para escolas do ensino básico”.
Sobre o envolvimento da pedagogia no projeto Memoria Ferroviária, Evandro Santana Jr., diz: “além do desenvolvimento da minha pesquisa, o MF é um grupo que proporciona bastante aprendizado e está sempre tentando inovar no trato do patrimônio ferroviário, com a ajuda de várias áreas, entre elas a educação. Recentemente foi possível testar um roteiro turístico na cidade de Campinas com algumas ideias do que pode ser chamado de turismo pedagógico, mesmo que essa atividade tenha sido um ensaio para o desenvolvimento de um trabalho mais consistente pelos turismólogos, também proporcionou resultados importantes para a educação”.
Segundo Evandro, é importante dar continuidade às pesquisas dos pedagogos sobre os bens patrimoniais ferroviários: “Eu gosto muito de uma frase do Gilberto Gil que diz que “a cultura é ordinária”, a cultura deve estar no dia-a-dia das pessoas, porque não se vive sem cultura, não se é sem cultura. O patrimônio ferroviário, como representação de vestígios de uma ou várias culturas, precisa ser contemplado dentro do ensino, como componente de formação para aquelas sociedades que foram formadas em processos fortemente ligados ao processo da industrialização.” E ainda sobre os desafios que o mesmo pode ver na área de pesquisa para profissão considera que conseguir inserir o ensino do patrimônio dentro do currículo é o maior desafio: “Apesar de alguns documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que apontam para a importância do estudo do patrimônio cultural dentro de uma proposta curricular, esse conhecimento compete com diversos outros que também tem sua importância em meio ao que é, ou foi, produzido pela sociedade enquanto manifestação cultural e/ou tecnológica. Além disso, teremos que enfrentar o desafio da formação de professores, que é interessada no estudo do patrimônio, como já indicada numa pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro (2001), mas que ainda não tem os componentes de estudo, como material didático de referência para a se aprofundar no tema”.
Atualmente, ele baseia sua pesquisa na atuação do Pedagogo nos museus com componentes ferroviários: “Atualmente a minha pesquisa se dá sobre a potencialidade da formação de professores e o que eles conseguem mobilizar na relação museu-escola, levando em conta as visitas escolares feitas em dois museus que tem componentes ferroviários, o Museu da Companhia Paulista e o Museu Histórico e Cultural de Jundiaí “Solar do Barão”. A pesquisa prevê o acompanhamento das visitas escolares nos museus, bem como o acompanhamento de aulas nas turmas que realizaram essas visitas com objetivo de entender os saberes mobilizados pelos professores na sala de aula com as visitas, partindo de uma teoria do pedagógica que vai eleger alguns conhecimentos como mais importantes do que outros nessa relação. Espero poder contribuir em potencializar a relação entre as duas instituições, visto que o papel educativo do museu é diferente do papel educativo da escola”.
Entrevistado: Evandro Nogueira Santana Junior
Referência
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). Centro de Estudos Históricos e Culturais. Pesquisa educação patrimonial: subsídios para elaboração de proposta de ação educativa: – Belo Horizonte, 2001. 42p. – (Cadernos do CEHC. Série Cultura, n.2)
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