No dia 13 de dezembro, 2016, vários pesquisadores do projeto Memória Ferroviária se reuniram na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Sevilha, Espanha, para discutir os resultados dos últimos intercâmbios desenvolvidos a partir do convênio internacional existente entre a UNESP (sede principal do MF) e a ETSA/Sevilha. Julián Sobrino e Enrique Larive, pesquisadores internacionais da equipe MF, relataram na apresentação do seminário o percurso do projeto MF nos últimos anos, ressaltando seu caráter territorial e seu perfil internacional, experimental e multidisciplinar.
Juan M. Cano ministrou a palestra “Métodos de investigación arqueológica aplicados al patrimonio ferroviario: el caso Memória Ferroviária”. Na sua fala, o doutor em Arqueologia apresentou os resultados obtidos na sua pesquisa de Pós-Doutorado, desenvolvida no Brasil com apóio da FAPESP entre outubro de 2014 e setembro de 2016. Trata-se de um estudo arqueológico das antigas oficinas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro na cidade de Jundiaí/SP, que visa estudar as conexões entre o dito espaço e o resto do mundo industrializado a partir, principalmente, dos seus vestígios matérias. O Dr. Cano refletiu sobre vários conceitos fundamentais a respeito da Arqueologia da Industrialização, uma disciplina que, com anterioridade a sua vinda ao Brasil, tinha sido pouco desenvolvida no estado de São Paulo. A seguir, Cano apresentou as ferramentas e procedimentos utilizados para produzir uma leitura funcional e evolutiva das oficinas de Jundiaí, que caracterizou como cenário de globalização e criação de novos contextos culturais.
Priscila Kamilynn Araujo dos Santos ministrou a conferencia “Prácticas de preservación y usos sociales: conjunto ferroviario de la Compañía Mogiana (Campinas/SP)”. Antes de apresentar os resultados obtidos, a mestranda em Arquitetura e Urbanismo pela UNESP/Bauru, fez uma pequena síntese sobre sua trajetória no estudo sobre a gestão do patrimônio ferroviário na cidade de Campinas, por meio de duas pesquisas desenvolvidas entre 2013 e 2014 dentro do curso de Turismo em nível de iniciação científica e com fomento da FAPESP. Posteriormente, a estudante apresentou os resultados alcançados no primeiro ano do mestrado e a contribuição da Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE/FAPESP) em andamento na ETSA sob orientação do professor Julián Sobrino. Em sua fala, Priscila destacou algumas diretrizes identificadas na gestão do patrimônio industrial que podem ser aplicadas ao patrimônio ferroviário paulista. Ademais, também foram apresentados instrumentos metodológicos produzidos durante o estágio, passíveis de execução ao contexto brasileiro por meio do MF, como por exemplo a ficha de reutilização do patrimônio industrial ferroviário.
Em seguida, Rafaela Rogato, que também está realizando um intercâmbio científico na Universidad de Sevilla (ETSA), por quatro meses, sob a orientação do professor Enrique Larive López e com financiamento da FAPESP (BEPE Proc. nº 2015/25054-1), apresentou o seu trabalho, intitulado “Patrimonio industrial urbano: conjunto ferroviario de Mairinque”. Durante a sua apresentação, a aluna de mestrado em Arquitetura e Urbanismo da UNESP/Bauru salientou os tópicos relevantes de análise da sua pesquisa sobre Mairinque, os principais objetivos do seu intercâmbio em Sevilha e os ganhos acadêmicos que esse pode representar para a sua pesquisa e para a própria equipe MF.
Finalmente, Diego Pavón apresentou o projeto da sua equipe para um Museu Ferroviário de Andaluzia (MUFA). Trata-se de uma iniciativa social que visa criar, em colaboração com as instituições públicas, um museu do transporte para a comunidade autônoma andaluza, onde a ferrovia teve uma importância histórica fundamental na articulação do território. O MUFA, que nasce para cobrir um vazio museográfico (em Andaluzia não existem museus ferroviários), tem o intuito de ser um museu moderno, do território (multi-sede), didático, aberto e totalmente adaptado aos novos parâmetros de acessibilidade física e cognitiva.
Na sessão de conclusões foram destacados os ganhos que o programa de intercâmbios Sevilha – São Paulo têm trazido tanto para o projeto MF quanto para as diferentes equipes e pesquisadores envolvidos. De fato, perante os bons resultados obtidos, já estão sendo programados novos intercâmbios de estudantes, professores e pesquisadores entre a ETSA/Sevilha e vários campus da UNESP, tais como Bauru e Presidente Prudente. Além disso, foram definidos os novos possíveis desafios que o projeto MF poderia afrontar nas próximas etapas, com destaque para a gestão dos complexos, acervos e bens patrimoniais pesquisados pela sua equipe.
O seminário incluiu, no período da tarde, uma visita técnica ao patrimônio ferroviário de Sevilha. A visita foi parte do programa Sevilla Industrial Bike, iniciativa do grupo Andalucía Transversal. No caso, tratou-se de uma edição especial monitorada pela equipe do MUFA, na qual foram visitados diversos enclaves do patrimônio ferroviário sevilhano, pertencentes a distintas companhias ferroviárias e que apresentam diversos estados de preservação e ativação: abandono, reutilização parcial (sem descaracterização do prédio original) e reutilização total (como intervenção arquitetônica agressiva).