Em comemoração ao Dia do Psicólogo, 27 de Agosto, convidamos a Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Ciência e Letras Câmpus Assis e Membro do projeto Memória Ferroviária, Geovana Souza Santana a nos informar sobre a área de atuação do psicólogo e sua ação no patrimônio ferroviário.
Primeiramente, sobre as áreas nas quais o psicólogo atua, Geovana nos diz:
“A psicologia é muito ampla, ela pode ser classificada tanto como uma área da saúde ou como de humanidades. Sua atuação pode ser feita na clínica, nas escolas, na pesquisa, na área organizacional, como em recursos humanos, em hospitais, em áreas sociais e em órgãos públicos, etc. Além destes locais o psicólogo segue, de modo geral, algumas vertentes que o auxiliam em seu trabalho, podem ser elas: a psicanálise, a histórico cultural/sócio-histórica, comportamental, cognitivista, ambiental e muitas outras.”
Quando perguntado sobre colaboração e atuação do psicólogo no projeto, ela explica que “a atuação de um psicólogo não é só a clínica ou a aplicação de testes. No Memória Ferroviária vimos muitas vezes como a ligação entre os trabalhadores e os patrimônio é forte, que é um aspecto trabalhado principalmente na psicologia do trabalho, na ambiental e também na social.”
Assim, sobre a pesquisa realizada em relação a ferrovia, ela nos conta que “A pesquisa que realizei sob a orientação do Prof. Dr. Eduardo Romero de Oliveira, foi sobre a relação entre a memória dos moradores das vilas ferroviárias de Assis e os vínculos dessas em suas subjetividades”
Sobre a experiência que esta pesquisa lhe deu, ela explica que:
“Foi muito bom para o meu amadurecimento como profissional fazer as entrevistas com os moradores de Assis, além de um enriquecimento pessoal, pois eu estava morando na cidade a pouco tempo, o que me deu a oportunidade de poder conhecer um pouco sobre a cultura local”.
Também explica que “Durante as entrevistas conversei com pessoas que trabalharam na ferrovia em diversos cargos e cidades diferentes, muitos deles relataram a falta que sentem desse transporte, além do som que ela fazia, foi emocionante ver a forma com que eles me contavam suas vivências e como sentiam orgulho do tempo de serviço. Já aqueles moradores que não trabalharam nas ferrovias, mas que tiveram bastante contato mostraram também sentir falta desse transporte, que apesar de serem longas as viagens eram muito gratificantes, pois durante o percurso eles contavam que às vezes faziam novos amizades, trazendo também esse lado afetivo do patrimônio a tona.
Com as entrevistas buscamos compreender através da história oral (que é a pesquisa que usa como fonte a oralidade) como se davam/dão essas relações. Foi muito interessante ver algumas perspectivas, que só foram percebidas ao decorrer da pesquisa, como a relação entre os moradores, o som e as memórias da ferrovia, alguns deles contaram que usavam o som do apito como uma maneira de marcar as horas, isso nos mostra como esse elemento fazia parte do cotidiano deles.
Nesse sentido, precisei sair totalmente da minha zona de conforto para poder fazer a pesquisa, eu estava no início da minha graduação que é muito voltada a questões clínicas, principalmente ligadas a psicanálise, e por isso foi muito enriquecedor esse processo de aprendizagem novo.”
Explicando a contribuição do psicólogo nas pesquisas em patrimônios industriais, ela comenta que “Por meio da pesquisa que realizei e de algumas atividades feitas com o MF pude perceber a carência que tem de um olhar mais humano do patrimônio, de ser além das pesquisas arqueológicas, turísticas e arquitetônicas. É um lado do patrimônio pouco explorado, mas que pode contribuir muito na conservação desses em conjunta da comunidade e de pessoas que trabalharam na construção desses.”
Complementando sobre a importância do estudo do aspecto humano no âmbito do patrimônio, Geovana afirma que “seria uma forma de fazer um resgate de aspectos pouco explorados, de um olhar mais sensibilizador e afetivo, que podem trazer novos elementos e perspectivas aos estudos patrimoniais.”
E finalmente sobre os desafios que o psicólogo enfrenta ou enfrentará em relação às pesquisas sobre ferrovia, declara que:
“É uma área de pesquisa pouco explorada tanto pela psicologia como para as pesquisas ligadas à ferrovia, o que faz com que tenhamos poucos referenciais nas áreas. Durante a preparação do projeto que realizei não encontrei nenhuma pesquisa dentro do pequeno levantamento que fiz de pesquisas que relacionassem os dois temas, mas acredito que agora já devam existir alguns. Penso que além disso, um outro grande desafio é estar aberto a sair um pouco da zona de conforto e tentar ampliar essas possíveis novas descobertas.”
Entrevistada: Geovana Santana Assis
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