Em comemoração ao dia do Professor, 15 de outubro, convidamos ao Professor Doutor e coordenador do projeto Memória Ferroviária, Eduardo Romero de Oliveira a nos informar sobre a prática da profissão.
Primeiramente sobre sua formação enquanto professor ele nos diz:
“Fiz a graduação no curso de História da Unicamp, onde também havia a capacitação em licenciatura. Vários colegas continuaram a carreira como professores do ensino médio, mas como eu pretendia atuar como professor do ensino superior, a pós-graduação (mestrado) era essencial. Ainda durante o mestrado foi que iniciei como professor universitário substituto na Universidade Estadual de Londrina (1992). Outras oportunidades vieram nos anos seguintes, tanto em universidades privadas quanto públicas – apesar de haver poucos concursos de ingresso na década de 1990.”
Quando questionado sobre as formas para melhorar a sua pratica pedagógica ele explica que “Para o ensino infantil tínhamos as disciplinas pedagógicas durante a graduação, mas para o ensino superior o requisito era a titulação (mestre e doutor). Portanto, usávamos os mesmos recursos didáticos ou atuávamos como conferencistas de temas específicos – infelizmente isso era comum. O modelo de grupos de estudos (com grupos de discussões, leituras de textos e debates constantes) era muito estimulado de aula de graduação nas humanidades em meados dos anos 1980 (período de redemocratização do país). Não por opção construtivista, mas política. O aprimoramento da prática pedagógica veio quanto as oportunidades docência superior se consolidaram. E discutir o papel da universidade pública e sua conjugação com a pesquisa científica são parte desse aprimoramento”. Ele também recomenda “A universidade no século XXI” (2004), de Boaventura dos Santos, como um texto que conjuga estes pontos do debate”.
Assim, sobre a experiência de participar da formação de tantos profissionais e pesquisadores ele nos conta que “É uma satisfação muito grande, poder acompanhar a formação desses profissionais. Ver como eles ingressam e tateiam nos primeiros anos de graduação, até chegarem a uma titulação equivalente a nós. Enxerga-se claramente as consequências e responsabilidades da educação a médio e longo prazo (uma década ou mais). Isso ocorre também nos outros níveis de ensino (fundamental e médio), mas nem sempre o mesmo professor acompanha esse processo. Isso personaliza o bom (ou maus) resultados de uma formação educacional; vê as consequências na vida de outra pessoa”. Assegura também que essa interação “deixa claro o quanto podemos ajudar a dar melhores condições de vida aquelas pessoas. Tratar isso com descaso – por parte dos responsáveis por políticas públicas educacionais, da instituição de ensino – é realmente uma insensibilidade para com a dignidade humana”.
Sobre a oportunidade e experiência de coordenar estudantes de diferentes níveis de ensino (graduação, mestrado e doutorado) o Prof.Dr.Oliveira explica que:
“A vontade de conhecer é o que nos coloca juntos, ainda que por anseios profissionais diversos. Partimos de temas específicos para aprimorar o conhecimento: a história ferroviária e patrimônio ferroviário. Cada estudante tem um interesse pessoal, uma curiosidade, que o aprendizado do tema pode permitir satisfazer”.
Ele também explica que procura ajudar os alunos a “descobrir esse prazer no aprendizado. Eu tenho a impressão que isso foi um pouco apagado ao longo dos anos. Prazer em ler e escrever; aquela curiosidade de criança, de descobrir o mundo em que vive. De acordo com o nível de aprendizado, tem necessidades teóricas ou metodológicas próprias. É quando atuamos mais na formação em pesquisa científica. É quando ensinamos a fazer as perguntas (mais ou menos) certas para as resposta que queremos obter. Ao mesmo tempo, conforme cada um descobre algo, reflete a respeito do que leu, também me traz novidades (de informação ou de ideias). Assim, não há uma simples divisão entre quem sabe e quem não sabe, mas entre o que se sabe ou não a respeito de um assunto ou objeto de estudo. E o prazer no aprendizado se torna mútuo”.
Ao ser questionado sobre como foi o processo de se adaptar ao formato de ensino virtual durante a pandemia ele nos relata que “foi uma oportunidade para aprender novas tecnologias de aprendizagem. Coordenei, junto com um professor que já atuava no núcleo de práticas pedagógicas da UNESP, um curso de tecnologias de aprendizagem em abril. Foi uma ação interna do grupo de professores do campus de Rosana, com apoio da UNESP, para capacitarmos à situação, o impacto do isolamento social na educação e também discutir práticas pedagógicas. Percebemos a necessidade de repensar a forma de ensino em função das disponibilidades oferecidas. Isso levou à adoção de uma proposta que fiz, de “cursos livres”, de realizar momentos de aprendizagem sobre algum tema. Dali surgiu a ideia de um curso sobre patrimônio cultural e direitos humanos, aberto a qualquer aluno de graduação (alunos da Venezuela participaram), em que se discutisse direitos básicos (educação, saúde, cultura) no contexto atual”.
E finalmente sobre o exercício da profissão em um cenário pós-pandêmico ele comenta que:
“Ficou claro que as deficiências na educação eram maiores do que se acreditava: o acesso ao material de ensino; o domínio das ferramentas tecnológicas ou infraestrutura digital (computadores, internet); as práticas pedagógicas implementadas rotineiramente na sala de aula, mesmo numa universidade como a UNESP, em São Paulo, ainda são precárias. A pandemia (com a exigência de distanciamento social e ensino remoto) expôs muitas mazelas do dia-a-dia. Acreditava-se que estaríamos num futuro de alta tecnologia, neste século XXI, mas está se usando o rádio para chegar a alunos que vivem em comunidades sem acesso amplo à comunicação, tanto no Brasil quanto na Índia. Com exemplos diferentes, isso tem acontecido também nos EUA e países da Europa (como Portugal). Em sociedades contemporâneas baseadas cada vez mais em conhecimento (inclusive para acesso à melhores condições de vida), o acesso ao conhecimento não é universal. Isso indica o alto risco de desigualdade social que irá incorrerer num futuro próximo se não buscarmos a universalidade da educação. Nesta sociedade do conhecimento, o professor é absolutamente fundamental”.
Entrevistado: Prof. Dr. Eduardo Romero de Oliveira
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