A cidade de São Paulo no início do século XX estava passando por diversas transformações urbanísticas e como a fotografia já era uma atividade consolidada, estas mudanças vão ser registradas em muitos álbuns, principalmente comparativos. O trabalho dos fotógrafos ao longo do tempo vai se diversificando para além dos retratos, são registrados eventos, construção de obras públicas e privadas. Os fotógrafos Guilherme Gaensly, Otto Rudof Quaas e Valério Vieira são alguns dos fotógrafos mais conhecidos da época e seus trabalhos são importantes para a história não só da cidade, mas do estado de São Paulo. Entre os trabalhos de Gaensly, encontramos a produção de álbuns, que retomam de certa forma o trabalho realizado por Augusto Militão de Azevedo no final do século XIX, com a produção de álbuns comparativos da capital, ele também faz o registro da modernização da cidade, com a instalação da luz elétrica realizada pela Light (KOSSOY, 2002).
Valério Vieira vai se destacar pela sua atuação na cidade, tirando retratos, registrando eventos sociais e fazendo panoramas da cidade, em 1922 com a ajuda da prefeitura ele fez um panorama de 16 metros, um trabalho muito ambicioso na época que levou um ano para ser finalizado (ELIAS, 2021, p.11).
Otto Rudolf Quaas vai registrar os edifícios projetados por Ramos de Azevedo na cidade e também vai fazer um trabalho importante de documentação, como contratado da Companhia Paulista de Estrada de Ferro registrando inaugurações de trechos ferroviários pelo interior do estado (KOSSOY, 2002).
Além destes fotógrafos aqui destacados, o estado de São Paulo tinha 27% dos estabelecimentos de fotografia do país em 1910, ao todo eram 67 fotógrafos, sendo 35 do interior, algumas dessas cidades são Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba, Rio Claro, Botucatu e Jundiaí (KOSSOY, 2002, p.372). Estes dados mostram como a atividade já estava espalhada pelo estado e chegando as cidades mais pequenas, o que indica que havia um mercado consumidor para esta atividade se desenvolver.
Na capital os fotógrafos encontravam-se principalmente nas ruas do “triângulo” paulista, formado pelas ruas Direita, São Bento e XV de Novembro, onde eram instalados equipamentos de infraestrutura desde a metade do século XIX (FREHSE, 2000, p. 133). No início do século XX porém, esta área central começa a ser expandida com a integração do parque do Anhangabaú e as ruas como São João, Líbero Badaró, Quintino Bocaiúva que são remodeladas, alargadas e alguns quarteirões próximos ao largo da Sé que são destruídos (CARVALHO, LIMA,1997, p. 114). Nesse momento também começam a surgir estabelecimentos fotográficos nos bairros, principalmente no Brás, o fotógrafo Otto Rudolf Quaas é o primeiro a abrir em 1895 um estabelecimento fora da área central (MENDES, GOULART, 2007, p. 194). No bairro do Brás na década de 20 estão estabelecidos nove ateliês fotográficos, sendo na maioria pertencentes a italianos, neste período também vão aumentar o número de fotógrafos ambulantes pelas praças e jardins da cidade ( RIBEIRO, 1994, p.34).
Estes são alguns aspectos da história da fotografia em São Paulo e de como ela se tornou uma atividade importante para a sociedade desde a sua invenção, podemos perceber como o acesso a essa tecnologia aumenta, pois com o aumento de fotógrafos ambulantes e do registro de eventos, percebemos o melhoramento das técnicas que facilita o deslocamento de fotógrafos pela cidade.
Referências
ELIAS, Érico Monteiro. As múltiplas faces de Valério Vieira. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, v. 29, 2021.
FREHSE, Fraya. Cartões postais paulistanos da virada do século XX: problematizando a São Paulo “moderna”. Horizontes Antropológicos, v. 6, n. 13, p. 127–153, 2000.
GOULART, Paulo Cezar Alves; MENDES, Ricardo. Noticiario geral da photographia paulistana 1839-1900. São Paulo, SP: Centro Cultural São Paulo: Imprensa Oficial, 2007.
KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo, SP: Instituto Moreira Salles, 2002.
LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. Fotografia e cidade: da razão urbana à lógica do consumo. Álbuns de São Paulo (1887-1954). [s.l.]: Mercado de Letras, 1997.
RIBEIRO, Suzana Barretto. Italianos no Brás: imagens & memorias (1920-1930). 1994. [126] f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, SP. Disponível em:<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/285115>. Acesso em: 20 jun. 2021.
Como citar
BROLLO, A. P. Atividade fotográfica em São Paulo no início do século XX. Projeto Meória Ferroviaria, 2021. Disponível em: https://memoriaferroviaria.rosana.unesp.br/?p=4052
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