Tijolo, pedra, madeira… Os materiais das construções ferroviárias não costumam ser muito diferentes daqueles empregados em outras tipologias de edificações, mas nem por isso deixam de guardar certas particularidades.
Primeiro de tudo: podemos compreender como “construção ferroviária” tudo aquilo que foi construído para viabilizar o funcionamento ferroviário como: estações, depósitos, oficinas, armazéns, casas telegráficas; e também outros tipos de edificações que davam suporte para os funcionários como é o caso das casas para ferroviários, escolas e etc. Além disso, outras construções não podem ficar de fora, como é o caso dos trilhos e postes e até das obras de arte que contemplam pontes, viadutos, bueiros, passagens de nível…
Todas essas construções, além de pertencerem ao universo ferroviário, também partilhavam de outra similaridade: seus materiais. No Brasil, o tijolo começou a ser utilizado em maior escala nas últimas décadas do século XIX, onde a implantação das ferrovias facilitou o transporte desse material para todo o território. Nas edificações ferroviárias, a sua aplicação era de fechamento (como as paredes das estações) e, muitas vezes, estrutural (no caso de pontes e bueiros, por exemplo).
Dependendo do tipo da construção, o tijolo era revestido com argamassa e aquelas edificações que não recebiam o revestimento apresentavam um bom trabalho de aparelhamento. Nesse último caso, muitos ornamentos realizados com o corte do tijolo podem ser vistos em estações de menor porte, algumas oficinas e depósitos.
As pedras costumavam ser utilizadas no embasamento da edificação. Mas nas demais construções ferroviárias podemos vê-las com maior frequência nas fundações de pontes e até mesmo no lastro dos trilhos, que tinha a função de absorver o impacto e diminuir a trepidação dos carros e locomotivas.
A madeira foi utilizada em larga escala nas construções ferroviárias: em edificações, pontes, pontilhões, postes, dormentes, carros… até determinado período a madeira era utilizada até mesmo para a alimentação das locomotivas. Nas edificações, sua aplicação costumava ser a de revestimento, sendo aplicada em pisos; esquadrias, fazendo a vez de portas e janelas; e até mesmo como ornamento, sendo aplicada em lambrequins. Em algumas edificações a madeira também era utilizada com função estrutural em tesouras de telhados.
Nos dormentes de trilhos, para retardar o processo de degradação, ela passava pelo processo de creosotagem – uma espécie de impermeabilização com óleo creosoto. Para as obras de arte, especialmente as pontes, alguns tipos de madeira eram preferidos, como o caso da aroeira. No entanto, a substituição por outro material era quase sempre um desejo para as companhias ferroviárias que, não dificilmente, mencionavam a superioridade do ferro em comparação: este seria mais durável e mais seguro.
Por sua vez, o ferro foi o material mais característico das construções ferroviárias e foi aplicado para diversos fins. Nas edificações, sua resistência permitia que estivesse presente em pilares e tesouras, garantindo uma edificação mais rígida que suportasse (e diminuísse) a trepidação ao passar dos trens. A plasticidade do material também permitia sua aplicação em diversas estruturas como escadas e guarda-corpos. Além disso, em muitas dessas estruturas pode-se identificar um apelo artístico e até a aplicação ornamental desse material como em mãos-francesas e até cristas de cumeeiras.
A relevância desse material era tamanha que, não dificilmente, podemos encontrar diversas estruturas ferroviárias que eram feitas com trilhos velhos (como pequenas estações, depósitos, pontes, postes e até arquibancadas de estádio). Como a siderurgia nacional era insipiente, grande parte desse material era importado.
No século XX, outro material surge no cenário da construção: o concreto armado, que permitia maiores vãos e a exploração de novas formas. Nas ferrovias não foi diferente e seu emprego pode ser visto em estações, oficinas, pontes… tanto na função de fechamento quanto estrutural. Por fim, a escolha de um ou outro material para compor as obras ferroviárias estava quase sempre pautada em questões de custo e logística: as companhias visavam sempre a funcionalidade e a economia.
Como citar
SILVA, Tainá Maria. Os principais materiais das construções ferroviárias. Projeto Memória Ferroviária, 2020. Disponível em: https://memoriaferroviaria.rosana.unesp.br/?p=3674
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