Para explicarmos o que são hortos e qual sua função é necessário apresentarmos a Seção Florestal, que foi utilizada por muitas companhias ferroviárias, mais precisamente a Companhia Paulista de Estradas e Ferro (CPEF) que é o nosso objeto de estudo. A Paulista foi fundada em 1868 por fazendeiros ligados ao café e manteve sua atuação até 1971, quando foi incorporada pela FEPASA – Ferrovia Paulista S/A juntamente com as outras 4 ferrovias do estado (POZZER, 2007).
No início do século XX, a empresa obteve uma grande expansão e um aumento na demanda em relação a lenhas e dormentes, dessa forma a necessidade de matéria prima para manter a ferrovia em funcionamento aumenta. Por conta disso, se fez necessário a criação de um departamento que fornecesse esse material e conseguisse suplantar o consumo, surgindo assim a Seção Florestal (MARTINI, 2004).
Seu início se dá em 1903, com a aquisição de um terreno de 104 hectares na região de Jundiaí. Esse terreno deu origem ao primeiro horto florestal da Companhia (COMPANHIA PAULISTA, 1904) e esses locais forneciam madeira para a ferrovia que eram utilizados na produção de lenha e construção de dormentes. Ao todo foram criados 18 hortos florestais em todo o estado de São Paulo, cujo último a ser instalado foi na região de Aimorés em 1940. Um dos principais e mais relevante horto é aquele que se encontra na região de Rio Claro: esse foi criado em 1909 e foi a sede da Seção Florestal. (MARTINI, 2004).
Agora que já falamos sobre o objetivo de criação dos hortos ferroviários, você deve estar se perguntando: “mas, atualmente, o que são feito com eles?” Poderíamos nos estender por horas falando sobre cada horto em específico, porém acredito que se tornaria mais uma leitura cansativa.
Alguns hortos, como no caso de Rio Claro, no interior do Estado de São Paulo, se tornaram unidade de conservação sendo ambientalmente protegido. Seus usos são destinados ao lazer, turismo e recreação na área de uso público, uso cultural e educacional com o Museu do Eucalipto e manejo ambiental.
Como podemos perceber, dar um novo uso mantendo sua significação e originalidade não possui uma receita única e estruturada que possa ser seguida. Cabe aos seus gestores identificar utilizações que atendam às necessidades da comunidade, se possível também de seus visitantes, à medida que o turismo é um potencializador de preservação e conservação do patrimônio.
Agora que já sabe um pouco mais sobre o contexto de criação e usos dos hortos ferroviários, não deixe de visitá-los.
Referências
POZZER, Guilherme Pinheiro. A antiga estação da Companhia Paulista em Campinas: estrutura simbólica transformadora da cidade. (1872-2002). Tese de Mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas, defendida em 2007.
MARTINI, Augusto Jeronimo. O plantador de Eucaliptos: A questão da preservação florestal no Brasil e o resgate documental do legado de Edmundo Navarro de Andrade. Tese de Mestrado, Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, 2004.
COMPANHIA PAULISTA DE VIAS FÉRREAS E FLUVIAIS. Relatório Para Assembleia Geral, 55, 30 de jun. de 1904, p.30, São Paulo, 1904.
Como citar
GONÇALVES, A. P. M; ROCHA, N. O. Hortos Florestais da indústria ferroviária: ontem, hoje e amanhã. Projeto Memoria Ferroviaria, 2020. Disponivel em: https://memoriaferroviaria.rosana.unesp.br/?p=3729
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