Compreendido por Choay (2001, p. 98) como “a herança de todos”, o patrimônio se expressa por meio de um conjunto de bens materiais e imateriais representativos da cultura de um grupo ou de uma sociedade (NEVES, 2003 apud MENESES, 2004). É resultado da relação entre o homem e o meio, utilizado para compreender os fenômenos vividos na sociedade e contextualizar os modos de vida da atualidade. Ele engloba, dentre outros campos, os aspectos culturais em sua concepção, ou seja, elementos construídos pelo ser humano em diferentes contextos sociais, econômicos, artísticos, históricos. Essa representação da sociedade em seus diferentes tempos e contextos, expressas no patrimônio, vem compondo relevantes discussões acerca de sua preservação, manutenção e interpretação. Relevante parcela dessas discussões se relacionam à utilização desses espaços, por meio dos seguintes questionamentos: É possível atribuir novos usos ao patrimônio? Como fazê-lo? Quais os usos mais indicados seguindo os mencionados preceitos de preservação? Baseando-se nessas questões que proponho uma reflexão relacionada à possibilidade do uso turístico do patrimônio, baseado em meu trabalho de conclusão de curso da Graduação em Turismo em 2016 (disponível em referências).
O turismo é definido pela Organização Mundial do Turismo (OMT), como: “a soma de relações e de serviços resultantes de um câmbio de residência temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”. Por ser uma atividade abrangente, ela pode ser subdividida em diversos segmentos de forma que não se esgotem suas possibilidades. Tratando-se especificamente do turismo cultural, a Carta Internacional sobre o Turismo Cultural o compreende como “uma força positiva que favorece a conservação do patrimônio, de modo a aproveitar suas vantagens econômicas e utilizá-las para essa finalidade, criando recursos, desenvolvendo a educação e reorientando as políticas” (ICOMOS, 1999, modificado). Essa dinâmica pode ocorrer de diferentes maneiras, grande parte delas relacionada à apresentação do patrimônio aos visitantes, seja através de centros de interpretação, museus, visitas guiadas… de modo a contemplar o patrimônio em suas diferentes vertentes e complexidades.
Como exemplo de utilização do patrimônio, com a finalidade de manutenção, interpretação e atração aos visitantes, destaco o caso do Zaanse Museum, museu ao ar livre na Holanda que explora a paisagem dos moinhos de vento através de distintas escalas de percepção.
O visitante pode caminhar por toda a extensão dessa área composta por moinhos de vento, e demais estruturas relacionadas, que colaboraram na produção de diferentes produtos cuja comercialização impulsionou o desenvolvimento econômico da região. No museu há diferentes alas de interpretação para que o visitante interaja com o espaço, as peças e as informações, tornando a visita atrativa para todos os públicos e idades, utilizando-se do uso de tecnologias que colaboram na experiência do visitante.
A atribuição de usos turísticos ao patrimônio na atualidade pode ser uma boa oportunidade para sua reativação. Para que isso ocorra seguindo os parâmetros de preservação, difusão e interpretação, é necessário que se desenvolva um planejamento crítico com gestão bem fundamentada, considerando a participação ativa da comunidade do entorno e com capacidade de carga bem estabelecida. Essas medidas evitam que uma atividade turística mal gerida possa provocar um papel inverso ao que se propõe ao patrimônio, conduzindo à degradação desses espaços e desrespeito à comunidade do entorno.
Referências
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Viera
Machado. São Paulo: Ed. da UNESP, 2001.
ICOMOS. Carta Internacional sobre o Turismo Cultural. México, 1999. Disponível em: <http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/cc/cartaintsobreturismocultural1999.pdf>. Acesso em 07 de outubro de 2020.
MENESES, José Newton Coelho. História & turismo cultural. – Belo Horizonte: Autentica, 2004.
SILVA, Milena Meira da. Complexo da Estação Ferroviária de Jundiaí e Complexo Fepasa: análise comparativa dos bens como recurso cultural ao turismo. 2016. 166 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Turismo). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Rosana, 2016.
Como citar:
SILVA, Milena Meira da. Uso turístico do patrimônio? Discussões e possibilidades. Projeto Memória Ferroviaria. 2020. Disponível em: https://memoriaferroviaria.rosana.unesp.br/?p=3958&preview_id=3958&preview_nonce=75ace364b2&preview=true&_thumbnail_id=3959
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